A sexualidade feminina possui
características próprias que a diferenciam da masculina, tanto no aspecto
morfológico, quanto no cultural e sociológico, entre outros1.
A função da sexualidade
feminina, na cultura ocidental, durante séculos, esteve voltada a procriação.
Com as descobertas científicas, as mudanças econômicas, religiosas e
sociais, houve uma mudança de comportamento tanto em homens, como em mulheres,
ocasionando assim, o reconhecimento de uma sexualidade feminina em constante
transformação, seja enquanto relacionamento (homo ou heterossexual),
manifestação (masturbação, sexo oral, sexo anal), prazer (tipo orgasmo, ponto
G) e finalidade (satisfação, procriação)1.
Uma disfunção sexual
caracteriza-se por uma perturbação nos processos que caracterizam o ciclo de
resposta sexual ou por dor associada com o intercurso sexual. O ciclo de
resposta sexual pode ser dividido nas seguintes fases2:
Desejo: esta fase consiste de fantasias acerca da
atividade sexual e desejo de ter atividade sexual.
Excitação: consiste de um sentimento subjetivo do prazer
sexual e alterações fisiológicas concomitantes. As principais alterações na
mulher consistem de vasocongestão pélvica, lubrificação e expansão vaginal e
turgescência da genitália externa.
Orgasmo: esta fase consiste de um clímax de prazer sexual, com liberação da
tensão sexual e contração rítmica dos músculos do períneo e órgãos reprodutores.
No homem, existe uma sensação de
inevitabilidade ejaculatória, seguida de ejaculação de sêmen. Na mulher,
ocorrem contrações (nem sempre experimentados subjetivamente como tais) da
parede do terço inferior da vagina. Em ambos os gêneros, o esfíncter anal
contrai-se ritmicamente.
Resolução: consiste de uma sensação de relaxamentos muscular e bem estar
geral. Durante esta fase as mulheres podem ser capazes de responder a uma
estimulação adicional quase que imediatamente. Em contrapartida, os homens são
fisiologicamente refratários a outra ereção e orgasmo por um período variável
de tempo.
Características das disfunções
sexuais femininas2:
302.71 – Transtorno de Desejo
Sexual Hipoativo: a característica essencial do
Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo é uma deficiência ou ausência de fantasias
sexuais e desejo de ter atividade sexual. A perturbação deve causar acentuado
sofrimento ou dificuldade interpessoal.
302.73 - Transtorno Orgásmico
Feminino (anteriormente Orgasmo Feminino Inibido): a característica essencial do Transtorno Orgásmico
Feminino é um atraso, ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo, após
uma fase normal de excitação sexual.
302.76 – Dispareunia: A característica essencial da Dispareunia é dor
genital associada com o intercurso sexual. Embora a dor seja experimentada com
maior freqüência durante o coito, ela também pode ocorrer antes ou após o
intercurso.
306.51
– Vaginismo: a característica essencial do
vaginismo é a contração involuntária, recorrente ou persistente, dos músculos
do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina, quando é tentada a
penetração vaginal com pênis, dedo, tampão ou especulo.
Critérios de diagnóstico das
disfunções sexuais2:
Transtorno
do Desejo Hipoativo: deficiência (ou ausência)
persistente ou recorrente de fantasias ou desejo de ter atividade sexual. O
julgamento de deficiência ou ausência é feito pelo clínico, levando em
consideração fatores que afetam o funcionamento sexual, tais como idade e
contexto de vida do indivíduo.
Transtorno Orgásmico Feminino: atraso ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo após uma
fase normal de excitação sexual. As mulheres apresentam uma ampla variabilidade
no tipo ou na intensidade da estimulação que leva ao orgasmo. O diagnóstico de
Transtorno Orgásmico Feminino deve fundamentar-se no julgamento de que a
capacidade orgásmica da mulher é menor do que seria esperada para sua idade,
experiência sexual e adequação da estimulação sexual que recebe.
A disfunção orgásmica não se
deve exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por
ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
Dispareunia: dor genital recorrente ou persistente associada com o intercurso
sexual em mulheres. A perturbação causa acentuado sofrimento ou dificuldade
interpessoal.
Vaginismo: espasmo involuntário, recorrente ou persistente da musculatura do
terço inferior da vagina, que interfere no intercurso sexual.
Tratamentos
No tratamento das disfunções
sexuais femininas, algumas premissas básica devem ser utilizadas1:
· não existe cônjuge não comprometido da
parceira que exibe uma inadequação sexual. A terapia é do casal;
· a abordagem terapêutica deve ser
multidisciplinar (ginecologista, urologista e psicoterapeuta);
· a equipe de terapia deve funcionar
como catalisador para a comunicação de descrição da base psicossocial das
disfunções;
· deve-se reconhecer o temor da paciente
em relação a seu desempenho sexual e a seus preconceitos, tabus e princípios
morais;
· deve-se corrigir conceitos errôneos a
respeito da anatomia e da fisiologia;
· estimular uma atitude de
auto-observação, orientando a paciente a se auto-examinar e a se tocar;
· exploração dos genitais, exercícios
específicos (com auxilio dos dedos ou de moldes ou de dilatadores vaginais),
relaxamento e posicionamento;
· apoio;
Outro tratamento para
disfunções sexuais podem ser1:
Psicoterapia
A sintomatologia ou queixa
é abordada no conjunto das vivências psíquicas e é vista como uma manifestação
psicológica. A partir disso a paciente passa a perceber que a questão sexual
está relacionada a outras questões de sua vida e que provavelmente sua queixa
está diretamente ligada à forma que ela tem de resolver determinados problemas.
Cada mulher deve trabalhar em sua individualidade, apesar de tratamento poder
ser individual ou grupal.
Terapia cognitivo-comportamental
A paciente, em entrevista
estruturada, é orientada e submetida às técnicas indicadas, e as mais comuns:
Para disfunção orgásmica:
exercícios sexuais progressivos com um parceiro, ou um vibrador, visando ao
relaxamento e integração das sensações sexuais até culminar no orgasmo.
Para dispareunia: utilização de
exercícios de relaxamento e exercícios sexuais com um vibrador e/ou companheiro.
Para vaginismo: proporcionar à paciente relaxamento suficiente para explorar sua
genitália e aos poucos inserir seu dedo na vagina e depois permitir que seu
companheiro faça o mesmo. O uso de dilatadores vaginais também é indicado.
Referências:
1. Abdo CHN. Sexualidade Humana e seus
transtornos. 2ª ed rev amp.
São Paulo: Lemos Editorial; 2001.
2. Associação Psiquiátrica
Americana (APA)-DSM-IV.Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.
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