segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Disfunção Erétil e Ejaculação Rápida:relação com a ansiedade

Definições

Para Masters e Johnson (1979), ejaculador precoce é o indivíduo que não contenta a parceira, em pelo menos 50% das relações sexuais. Os autores, entretanto, não especificam o número das relações sobre o qual fixam este limite.
Kaplan (1974), ao estudar as várias definições de ejaculação prematura, encontra um critério comum o número de incursões penianas e o tempo decorrido, após a penetração, até o reflexo ejaculatório estão intimamente relacionados. Esta autora utiliza, apenas recursos da reflexologia, para definir a disfunção erétil como “falha ao reflexo erétil”. Essa definição ignora questões biológicas e sociais, sem dúvida implicadas na origem do distúrbio.
A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENCAS, décima revisão (CID-10), definiu “falha da resposta sexual” (incluindo impotência) como “dificuldade em desenvolver ou manter uma ereção adequada para o intercurso satisfatório”, desde que excluídas patologias orgânicas (OMS, 1993, p.189).
De acordo com esse critério diagnóstico, ejaculação precoce, representa a “incapacidade  de controlar ejaculação o suficiente para ambos os parceiros gozarem a interação sexual” (OMS, 1993, p.190). Para a adequada definição do termo, exige-se exclusão da etiologia orgânica e ereção retardada.
Nestas duas últimas definições, percebe-se a tentativa de inclusão do aspecto relacional. Entretanto, não é considerada a possibilidade, muito comum, da concomitância de disfunção sexual da parceira, o que configuraria uma complementariedade patológica (OLIVEIRA & ABDO, 1994).
Diversos autores, como (KAPLAN , 1974;MONEY & MUSAPH, 1977;BANCROFT, 1983;GREENWOOD, 1984; ZILBERGELD, 1980), ao relacionarem os possíveis fatores etiológicos, incluem, com freqüência, a ansiedade como associada, causadora e/ou mantenedora das disfunções sexuais. No entanto, a ansiedade (sintoma ou patologia) não é valorizada na definição desses transtornos.


Causas Imediatas

KAPLAN (1974), salienta os aspectos que se constituem em dificuldades imediatas no campo da sexualidade, como:
  • Inabilidades do desempenho eficiente;
  • Medo do fracasso acompanhado de extremo desejo de satisfazer o(a) parceiro(a);
  • Tendência a racionalizar o prazer erótico (dificultando a entrega para prazer erótico (dificultando a entrega para o prazer sexual), comunicação precária do casal a respeito de preferências sexuais;
A inabilidade no desempenho sexual é resultado, geralmente, do desconhecimento de peculiaridades da  resposta sexual, por exemplo: o homem, tendo sua competência de erotização diminuída pela idade, pode desenvolver disfunção erétil secundária pela ansiedade resultante de cobrança de resposta.
A obrigatoriedade de orgasmo simultâneo a que o casal se submete, por pressão cultural, pode, também, desencadear falha de ereção.
O medo do fracasso no sexo relaciona-se diretamente com a ansiedade.
De acordo com HARTMAN(1980), a disfunção sexual masculina pode ocorrer mais frequentemente quando a parceira é ativa e reivindicadora de prazer sexual.
Para KAPLAN(1974), a partir de um fracasso eventual não superado, pode-se configurar autêntica disfunção, em indivíduos vulneráveis orgânica ou emocionalmente.
Desviando a racionalização do prazer erótico, o indivíduo impede de desfrutar o ato sexual, tornando-se expectador de seu desempenho e sem entrega. Auto-observação e crítica ansiogênicas, podem, neste caso, resultar em disfunção erétil.


Tratamento

Tratar a disfunção sexual masculina significa mais que promover recuperação do controle e/ou da força de ereção. Representa, antes, recuperar e, às vezes até, desenvolver a auto-estima e o sentimento de competência para os diversos aspectos da atividade humana.
Os elementos indispensáveis para qualquer abordagem terapêutica são:
  • Incentivar a comunicação dos parceiros e a manifestação mútua de suas necessidades sexuais específicas;
  • Esclarecer o ciclo de resposta sexual e os aspectos ligados à função sexual;
  • Estimular exercícios sexuais (entre uma consulta e outra).
No caso da disfunção erétil, os medicamentos administráveis por via oral recentemente lançados (sildenafil, fenolamina) têm se constituído em mais de um recurso contra a disfunção erétil. Agindo de forma incisiva e sem inconvenientes da administração injetável, auxiliam na aquisição de auto-confiança e encorajam a retomada da atividade sexual, sem a  insegurança e o constrangimento das tentativas frustradas.
Observa-se que esse tipo de medicação só é útil quando existe o desejo, ou seja, quando a disfunção erétil decorre de alterações da excitação ou do orgasmo. A dose indicada é de 50 mg de sildenafil (Viagra®)ou 40 mg fentolamina (Vasomax®,Regitina®, Herivyl®) 40 a 60 minutos antes do ato sexual.                   
Para a ejaculação precoce, os efeitos colaterais dos antidepressivos(diminuição de libido e das secreções, contenção da ansiedade)auxiliam no retardo da ejaculação.


Fonte:
Abdo CHN. Sexualidade Humana e seus Transtornos. 2ª ed rev amp. São Paulo: Lemos Editorial;79-89; 2001.

Para uma pesquisa mais profunda:
BANCROFT, J. Human Sexuality and its Problems. Edinburgh, Churchill Livingstone, 1983.

GREENWOOD, J. Coping with Sexual Relastionships. Edinburgh, Mc Donald, 1984.

HARTMAN, L.M. Relationship Factores and sexual Dysfunction. Canadian J. Psychiat., 25:560-3, 1980.

KAPLAN,H.S. A Nova Terapia do Sexo. 5ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1974.

MASTERS, W.H. & JOHNSON, V.E. A Incompetência Sexual. 3ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.

MONEY, J. &MUSAPH, H. The Handbook of Sexology. Amsterdam, London, New york, Excerpta Medica, 1977.


OLIVEIRA, S.R. & ABDO, C.H.N.Algumas Reflexões sobre a Importância do Casal na Gênese das Patologias Sexuais. Rev. Psiquiat. Clín., 21(1):15-18, 1994.

OMS. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Trad. D. Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.

ZILBERGELD, B. Men and Sex. London, Fontana, 1980.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Estudo identifica fatores que prejudicam a sexualidade feminina após a idade reprodutiva

    Depois da menopausa, quando acabam as ovulações mensais e os teores de hormônios femininos caem bastante, a qualidade da vida sexual de mais de um terço das mulheres piora muito. Elas passam a evitar relações sexuais, em grande parte por sentir desconforto e dor que tornam o sexo quase um suplício doloroso. Essas constatações vêm de um levantamento coordenado pelo ginecologista Aarão Mendes Pinto-Neto, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e detalhado em três artigos publicados em 2008 na revista Menopause. 
    No trabalho, parte da tese de doutorado da ginecologista Ana Lúcia Valadares, os pesquisadores avaliaram a qualidade da vida sexual de 378 mulheres com idades entre 40 e 65 anos que haviam completado o ensino médio, uma população muito pouco estudada no Brasil. Todas as entrevistadas eram moradoras de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Elas responderam a um questionário – desenvolvido na Austrália e traduzido para o português pelo grupo da Unicamp – que investiga a vida sexual por meio de perguntas sobre a frequência das relações sexuais (solitárias ou a dois, com ou sem penetração vaginal), a intensidade do prazer alcançado com o sexo e a frequência e a intensidade de pensamentos sobre sexo e do desejo sexual. 
     Um dos resultados que chamaram a atenção foi a grande frequência de dor durante a penetração – distúrbio chamado pelos médicos de dispareunia –, mencionada por quase 40% das entrevistadas. “Entre dois e três anos depois da menopausa, quase todas as mulheres sentem algum nível de desconforto devido à secura vaginal”, conta Aarão. Em muitos casos, nada que informação e um pouco de gel lubrificante não resolvam. 
    A companhia de um parceiro carinhoso e saudável também se mostrou indispensável para uma boa sexualidade. Ana verificou que as mulheres cujos parceiros tinham problemas como disfunção erétil ou ejaculação precoce apresentavam maior tendência a sentir dor durante o sexo. Uma explicação provável, segundo os pesquisadores, é que essas mulheres, para atingir um nível de lubrificação confortável, precisavam receber mais carícias, o que nem sempre um parceiro mais apressado consegue dar. 
   A dispareunia foi mais comum entre as mulheres com depressão e as que se sentem nervosas em relação ao sexo. Como o questionário estabelece a correlação, mas não permite saber se a dor causa o problema emocional ou se é consequência dele, os pesquisadores se valem da experiência clínica para entender melhor os resultados. Com base nos casos que viu em mais de 20 anos de estudo, o ginecologista da Unicamp acredita que o desconforto físico surge antes do problema emocional. E, quando a mulher antecipa a dor que sentirá, começa a evitar a atividade sexual.

     Alguns dos sinais desagradáveis da menopausa atrapalham o sexo, o que torna a disfunção sexual mais comum entre as mulheres que têm esses sintomas. Não surpreende. Quem transpira e sente falta de ar durante ondas súbitas de calor, não produz lubrificação vaginal, sofre de insônia, tem depressão e passa por um período em que as oscilações de humor parecem uma montanha-russa a ponto de dar saudades das tensões pré-menstruais da juventude dificilmente encara o sexo com bons olhos. Além disso, os medicamentos contra depressão e hipertensão, problemas comuns nessa fase da vida, podem diminuir o desejo sexual.  

Medida pessoal - Uma boa vida sexual, Aarão frisa, é a que satisfaz a própria pessoa. Há quem fique feliz com sexo uma vez ao mês e quem ache três vezes por semana pouco. E, ele acrescenta, o desejo sexual naturalmente diminui com a idade – não com a menopausa. “Um homem de 50 anos tem menos desejo do que tinha aos 20 anos; o mesmo acontece com as mulheres.” Por essa razão, o pesquisador não fala em sexualidade boa ou normal, mas sim adequada para cada mulher.  
     A satisfação, porém, não depende apenas da saúde física. Para uma vida sexual plena, a saúde emocional do relacionamento deve estar em dia. “Para ter uma sexualidade adequada, a mulher precisa sentir atração pelo parceiro”, conta o pesquisador da Unicamp. O questionário incluiu perguntas sobre quão satisfeita a participante estava com seu parceiro como amante, se estava apaixonada e, de maneira geral, como se sentia em relação a ele – ou ela, no caso de relações homossexuais. Uma proporção maior (de 71% a 86%) de mulheres que deram nota máxima em uma escala de 0 a 6 para cada um desses três itens – ou seja, estavam apaixonadas, os parceiros as satisfaziam e elas os viam como bons companheiros – afirmou ter uma boa vida sexual. Entre as menos satisfeitas com seus parceiros, mais da metade (entre 53% e 56%) tinha a sexualidade prejudicada.  
     Entre as mulheres da capital mineira, ficou claro que ter um parceiro sexual saudável é importante para uma boa vida sexual, mas morar com esse parceiro atrapalha. Segundo o ginecologista, alguns sexólogos defendem que a cura para a disfunção sexual feminina é um parceiro jovem e atraente.  
     A partir desse levantamento, os ginecologistas podem ajudar as mulheres a resgatarem sua sexualidade depois da idade reprodutiva. Para isso é preciso avaliar o caso de cada paciente e buscar soluções mais adequadas para elas. A terapia de reposição hormonal, por exemplo, pode reduzir a falta de lubrificação e os calores, e determinadas posições sexuais podem ser mais confortáveis e prazerosas para a mulher. “Nossa função”, resume Aarão, “é oferecer bem-estar geral às mulheres e preservar a saúde delas para a velhice”.
Maria Guimarães - Pesquisa Papesp
[18/2/2009]


Fonte:

     

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Modelo Circular da Resposta Sexual Feminina: Basson - Parte II

     


    O paradigma criado por Masters e Johnson e Kaplan foi aceito por muitos anos como representante da resposta sexual tanto nos homens como nas mulheres. Recentemente, uma das principais especialistas em saúde sexual da mulher (Rosemary Basson) tem defendido um novo modelo de função sexual feminina que sublinha a interdependência das relações e dos  fatores da função sexual em mulheres. Neste novo modelo, a sexualidade e a função sexual em mulheres segue uma trajetória circular em que estímulos emocionais e de relacionamento são questões que desempenham um papel fundamental e o desejo sexual intrínseco desempenha um papel muito menor1.
     Este modelo foi confirmado no II Encontro Internacional para levantamento de Consensos relativos às desordens sexuais, caracterizando o ciclo de resposta sexual feminina por cinco fases (Basson et al., 2004) assim esquematizadas2:
1ª. Fase: Início da atividade sexual com motivação não necessariamente sexual, podendo não haver consciência de desejo sexual.
2ª. Fase: Receptividade ao estímulo sexual em contexto adequado, identificação da excitação sexual potencial (excitação subjetiva e resposta física), desencadeando a responsividade biológica.
3ª. Fase: Vivência da excitação subjetiva, que também pode desencadear a consciência de desejo sexual.
4ª. Fase: Aumento na intensidade da excitação e do desejo responsivo, podendo ou não ocorrer o alívio orgástico.
5ª. Fase: Satisfação física e emocional, aumentando a receptividade para iniciar a atividade sexual na próxima vez, o que fecha, portanto, um modelo circular. Havendo insatisfação física ou emocional, diminui a motivação para ser ativa sexualmente no futuro.Observou-se que o desejo inato ou espontâneo, experimentado anteriormente ao início da estimulação, pode algumas vezes estar presente, desencadeando o ciclo da resposta sexual e substituindo as duas primeiras fases. Caracteriza-se, neste caso, uma combinação com o modelo tradicional. Estabeleceu-se a ressalva de que a ausência do desejo espontâneo não caracteriza uma disfunção sexual.
     Esse modelo embasa o Índice da Função Sexual Feminina – FSFI (Rosen et al., 2000), um questionário breve que avalia seis domínios: desejo, excitação subjetiva, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor. Permite avaliar a intensidade relativa da disfunção em cada um desses domínios.

Fonte:

1. Tom F. Lue; Shindel, Alan. Male Sexual Function and Dysfunction:A guide for men and their partners (Internet). Version 43. Knol. 2008 Nov 12. Available from: http://knol.google.com/k/tom-f-lue/male-sexual-function-and-dysfunction/O879r3Nx/qdC4CQ.

2. Fleury, H. J. Estudo comparativo entre dois modelos de intervenção sobre as manifestações da sexualidade na perimenopausa: modelo fitoterápico e modelo psicoterapêutico associado ao fitoterápico (Internet). Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. São Paulo, 2006. Disponível em : http://www.heloisafleury.com.br/hjf_tese.pdf