terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Orgasmo Clitoriano e Orgasmo Vaginal – uma antiga polêmica

Nas teorias que elaborou sobre a sexualidade feminina, Freud acreditava ser o clitóris o vestígio de um pênis inferior. Na infância, seria natural o clitóris ser descoberto primeiro como o órgão do prazer feminino, por ser mais perceptível. Mas, no seu desenvolvimento para a vida adulta, a menina deveria transferir seu interesse pelo clitóris para a vagina que, por ser um órgão receptor, lhe proporcionaria alcançar a sexualidade madura. Para ele, a atitude feminina é normal que a mulher desenvolve para compensar a inveja do pênis é de passividade, submissão e dependência.
Karen Horney, a partir de 1924, desafiou as opiniões de Freud, admitindo a influência da cultura – “que naquele tempo obrigava as mulheres a se adaptarem  aos desejos dos homens e a encararem essa adaptação como um reflexo de sua verdadeira natureza” - , recusando-se a aceitar a anatomia como destino. Ela considerava a capacidade da mulher para a maternidade uma prova de sua capacidade fisiológica – o que era invejado pelos homens – e também como evidência de que a vagina, assim como o clitóris, representa um papel na organização genital infantil das mulheres.
A antropóloga Margareth Mead, após estudar os hábitos sexuais das pessoas comuns em dezenas de sociedade, conclui que “a capacidade para o orgasmo é uma resposta aprendida, que numa determinada cultura pode ou não ajudar as mulheres a desenvolverem”. Na Nova Guiné, os mondugumor, por exemplo, acreditavam no orgasmo das mulheres, o que faz com que elas sejam tipicamente orgásmicas.
A partir da década de 1950, o bióloga Alfred Kinsey estudou os hábitos sexuais em nossa cultura, usando métodos quantitativos, e a teoria da transferência clitoriano–vaginal de Freud começou a ser oficialmente desafiada.
Kinsey reuniu sete mil de aproximadamente 17 mil casos ou observações. Numa palestra na Cacademia de Medicina de Nova York, em 1955, revelou a uma grande platéia atônita de ilustres médicos a ampla variedade de comportamentos sexuais masculinos e femininos, como a masturbação, a homossexualidade, o coito anal e especialmente, as relações extraconjugais, praticados em muito maior número do que a sociedade desejava admitir publicamente.
“Como Freud e todos os outros grandes pioneiros, Kinsey cometeu alguns erros. Um deles, que afeta o nosso dilema atual (orgasmo clitoriano versus orgasmo vaginal), nasceu de seu desejo de ser tão científico quanto possível”. Numa pesquisa especial do Instituto Kinsey, tentaram determinar quais as áreas dos órgãos genitais femininos eram mais sensíveis ao estímulo sexual. Três ginecologistas homens e duas mulheres testaram mais de 800 voluntárias, tocando 16 pontos, inclusive o clitóris, os grandes e os pequenos lábios, a mucosa vaginal e o colo do útero. Desejando ser impessoais e científicos, os experimentadores não quiseram tocar diretamente as pessoas pesquisadas. Foi usado então um dispositivo semelhante a uma ponte e Q. “Infelizmente, sabemos agora, as áreas sensíveis da vagina correspondem à pressão forte, mas não ao toque suave, e assim os pesquisadores de Kinsey concluíram, erradamente, que o clitóris é sensível e a vagina não”.
Masters e Johnson, encorajados pelo progresso científico do trabalho de Kinsey, decidiram observar, pela primeira vez, o sexo em laboratório. Devido ao erro de Kinsey, eles admitiram que a capacidade da masturbação até atingir o orgasmo pelo estímulo do clitóris era o ponto crucial da resposta sexual feminina normal. “Agora sabemos que eles se esqueceram, ou deixaram passar, as mulheres que funcionam de modo diferente.”Passaram a defender, então, que todos os orgasmos femininos envolvem o clitóris e são fisiologicamente indistinguíveis. Para eles, todos os orgasmo da mulher envolvem o contato com outras partes da abertura da vagina, provocando um fricção entre o clitóris e o seu próprio capuz.  A mesma fricção que ocorre durante a masturbação pode ocorrer durante o coito.
Para Freud, o orgasmo clitoriano era imaturo, para Masters e Johnson, o único orgasmo possível. Em 1977, alice e Harold Ledas decidiram elaborar e enviar um questionamento anônimo para 198 mulheres analistas bioenergéticas, com o objetivo de discutir as diferenças teóricas que envolviam a importância do clitóris.  Acreditavam que assim elas estariam mais livres para responder, já que manter interesse pelo clitóris, para elas, era ser imaturo. “A grade conclusão dessa pesquisa é, pois, desafiar a teoria freudiana da transferência clitoriano-vaginal. De acordo com o que responderam, as mulheres não prefeririam abandonar o clitóris em favor da vagina, mas, pelo contrário, a adicionar a sensibilidade vaginal ao seu desfrute de estímulos clitoriano!
Em 1980, os resultados desse estudo foram apresentados por Alice Ladas no congresso nacional da Sociedade para o Estudo Científico do Sexo, em que demonstrou que os orgasmos não implicam, necessariamente, o clitóris e também que o orgasmo clitoriano não é imaturo.


Fonte:

Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo.Novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007; 323-326.

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