terça-feira, 12 de outubro de 2010

Observando as ovelhas...A descoberta da paternidade.


A história humana divide-se em dois grandes períodos: a Idade da Pedra e a Idade dos Metais. Há registros escritos deste último, iniciado por volta do ano 3000 a.C., correspondendo à  história das nações civilizadas. A Idade da Pedra subdividi-se em: Paleolítico (antiga Idade da Pedra) e Neolítico (nova Idade da Pedra).
Vivia-se nos bosques, provavelmente nas árvores, a maior parte do tempo, devido à presença de animais selvagens, e a alimentação consistia apenas em raízes e frutos. A descoberta do fogo tornou os homens mais independentes do clima e do lugar. Podiam cozinhar , afugentar animais, iluminar as cavernas. Adquiriram maior autonomia.
O primeiro representante do Homo sapiens foi o homem de Cro-Magnon, no Paleolítico  superior, isto é, nos últimos 35 mil anos.
O temor diante do mistério da vida e da morte era expresso em rituais e mitos associados à crença de que os mortos pudessem renascer. Desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação. Os homens não imaginavam que tinha alguma participação no nascimento de uma criança, o que continuou sendo ignorado por milênios. A fertilidade era característica exclusivamente feminina, estando a mulher associada aos poderes que governavam a vida e a morte. Embora tudo indique que tivesse mais poder do que o homem, não havia submissão. Cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem, a todas as mulheres. O matrimônio era por grupos. Cada criança tinha vários pais e mães e só havia a linhagem materna.
Foram encontrada na Europa Central, entre 30000 e 25000 a.C., por arqueólogos, quase 200 estatuetas que testemunham o culto à fecundação. Não há representação do ato sexual ou qualquer sinal de erotismo. O símbolo sexual do período Paleolítico foi a mais famosa dessas estatuetas: a Vênus de Willendorf, que tenha aproximadamente 12 cm de altura e representa uma mulher de nádegas e seios imensos, quadris largos, barriga proeminente e uma grande fenda vaginal.
No ano 10000 a.C., o gelo começou a recuar para o Norte, modificando o clima e, com isso, a vegetação. Na ausência da roda e de animais de carga, era impossível para os  homens transportar os alimentos colhidos. Decidiram, então, mudar-se para perto das plantações, fazendo surgir, as primeiras aldeias.
A agricultura estabelece-se definitivamente em 6500 a.C. Presume-se ter sido uma invenção da mulher, devido às constantes ausências do homem. Começou a domesticar os animais, abandonando a caça e com isso a agricultura ganhava mais importância.  Acreditava-se que a fecundidade da mulher influenciava a fertilidade dos campos. Tal associação fez com que ela alcançasse um prestígio nunca antes vivenciado. A mãe era a personagem central nessa sociedade. A mulher, assim como a Deusa, tornava-se poderosa no imaginário da época.
Não mais tendo que arriscar a vida como caçador, os valores  viris do homem não eram enaltecidos, daí a ausência de deuses masculinos. As súplicas e os sacrifícios eram dirigidos à Deusa e toda atividade econômica estava ligada a seu culto. Os homens não tinham motivos para se sentir superiores ou exercer qualquer tipo de opressão sobre as mulheres. Continuavam ignorando sua participação na procriação e supunham que a vida pré-natal das crianças começava nas águas, nas pedras, nas árvores ou nas grutas, no coração da terra-mãe, antes de ser introduzida por um sopro no ventre de sua mãe.
Quando abandonaram a caça, os homens começaram a participar das atividades das mulheres. Inicialmente, ajudavam na árdua tarefa de desbravar a terra com enxadas de madeira, o que exigia bastante força física. Algum tempo depois, domesticaram os animais e os incorporaram à agricultura, usando um arado primitivo. A convivência cotidiana com os animais fez com que os homens percebessem dois fatos  surpreendentes: as ovelhas segregadas não geravam cordeiros nem produziam leite, porém, num intervalo de tempo constante, após o carneiro cobrir a ovelha, nasciam, filhotes. A contribuição do macho para a procriação foi, enfim, descoberta, mas não apenas isso. Os homens perceberam que num carneiro podia emprenhar mais de 50 ovelhas! Com um poder similar a esse, o que homem não conseguia fazer?
Não é difícil imaginar o impacto dessa revelação para a humanidade. Após milhares de anos acreditando que a fertilidade e a fecundação eram atributos exclusivamente femininos, os homens constatam, surpresos, que o que fertilizava uma mulher é uma substância nela colocada: o sêmen do macho! A partir daí, há uma ruptura na história da humanidade. Transformaram-se as relações entre homem e mulher, assim como a arte e a religião. O homem, enfim, descobriu seu papel imprescindível num terreno em que sua potência havia sido negada.
A reação masculina eclodiu com a força e a ira de quem fora durante muito tempo enganado. O homem foi desenvolvendo um comportamento autoritário e arrogante. Daquele parceiro igualitário de tanto tempo, a mulher assistiu ao surgimento do déspota opressor. A superioridade física encontra, então, espaço para se estender à superioridade ideológica.
   
Fonte:

 Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo: novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007:21-24;27.
                                                                                                        

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