domingo, 5 de dezembro de 2010

Casamento

     Dentro do útero da mãe o indivíduo obtém a satisfação imediata de todas as suas necessidades.        Desconhece a fome, o frio, a sede e a falta de aconchego. Mas nasce. Precisa respirar com os próprios pulmões, reclamar a fralda molhada, desesperar-se com a cólica. É tomado por profundo sentimento de falta. Uma angustiante sensação de desamparo o invade. Sem retorno ao estágio anterior, isso o acompanhará por toda da vida.
     Ao nascer, ele é introduzido num mundo com padrões de comportamento claramente estabelecidos. Inicia-se, assim, o processo de socialização. Os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelo que se aprende a desejar, e o indivíduo passa a se comportar e agir de acordo com a expectativa social. As singularidades não mais existem. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação amorosa fixa e estável: o casamento. Tenta-se reaver o paraíso simbiótico que se tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, que não sustenta na realidade de uma vida a dois, cotidiana.
     Aprisionadas pela tirania de uma moral que determina o certo e o errado, o bom e o mau, pessoas solteiras, separadas ou viúvas buscam no casamento sua parcela de felicidade. A mudança na forma de pensar e de viver gera medo e ansiedade, sendo mais fácil optar pelo já conhecido, apesar das frustrações.      Contribuem para isso a família, os amigos, a escola e os meios de comunicação. Não existe novela sem casamento feliz no final.
     Quase todos os homens e mulheres, desejam não só casar, como se submeter com resignação a muitas outras normas sociais de conduta, a maioria incompatível com suas aspirações mais legítimas. Fazer escolhas realmente livres não é simples. Seu preço é fixado no alto pela sociedade, que mantém unidos os fiéis, á custa do sacrifício individual.

 Fonte:
 Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo: novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007:170-172.

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