O homem que se gaba por ter duas, três, quatro ou mais ereções consecutivas –sem pausas para descanso– provavelmente está mentindo. De acordo com o ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Junior, professor do ambulatório de sexualidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), "Um pênis grande e ereto, que nunca amolece, é coisa de filme ou fantasia".
O médico conta que já foi convidado para acompanhar algumas vezes a produção de filmes pornográficos. Segundo ele, nos bastidores, atores recebem injeções, normalmente usadas em pacientes diabéticos com disfunção erétil orgânica, para que a ereção seja mantida por períodos prolongados.
O urologista da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) Alexandre Aranha Trigueiro, por outro lado, conta um caso único, publicado em 1998 no Journal of Sex Education and Therapy (Jornal de Educação e Terapia Sexual, em tradução livre), de um homem de 35 anos que conseguiu seis orgasmos ejaculatórios completos em um intervalo de 36 minutos.
"Casos assim são raríssimos, estão fora dos padrões médicos de normalidade e não representam a realidade dos homens", diz o urologista.
Não se sabe quantos indivíduos são capazes de tal façanha, mas seu número extremamente reduzido nem permite à ciência detectar as causas bioquímicas da potência repetitiva.
"O artigo da renomada revista científica explica o caso apenas de forma subjetiva e superficial; o indivíduo analisado acredita que simplesmente aprendeu a fazê-lo", diz o médico paraibano. Ele não acha, entretanto, que esta seja uma habilidade adquirível com treino e disciplina. "É algo que só ele consegue".
Homens superpotentes não são frequentes
Tanto a duração de uma relação sexual como sua frequência e período das pausas entre uma transa e outra costumam ser critérios de qualificação de desempenho, mas dependem de uma somatória de fatores muito relativos. Entre eles, disposição para o sexo, desejo pela parceira ou parceiro, tempo que a relação já perdura (quanto mais "fresco" o casal, mais fácil é o apetite), a idade de cada um e a presença de doenças ou disfunções hormonais, além do abuso do álcool, tabaco, drogas e do nível de estresse cotidiano.
Segundo a professora Maria Alves de Toledo Bruns, líder do grupo de pesquisa Sexualidade Vida, sediado na USP e financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), machos superpotentes não fazem parte do espectro de pacientes nem do leque de entrevistados nas pesquisas. "Ao contrário, homens, inclusive os bem jovens, vivenciam problemas graves de disfunção erétil, principalmente por ansiedade", diz.
O maior agente causador desta ansiedade, que prejudica a ereção, é a própria cultura de valorização da quantidade de ereções. O homem se sente pressionado a cumprir o que diz que sabe fazer. "Ele entra em um processo de insegurança emocional, principalmente se está com alguém muito atraente e que traz para a cama expectativas de um desempenho excepcional", afirma a professora.
Ao professor Amaury Mendes Junior parece óbvio que, no Brasil, a questão toda seja cultural. "A mulher tem de ser sensual e o homem, garanhão". Para ele, ainda não é a inteligência que conta, mas se o objeto de desejo parece ter um bom desempenho sexual.
Por que a segunda ereção é difícil?
Os pesquisadores americanos William H. Masters and Virginia E. Johnson sistematizaram nos anos 1970 o que se chama ainda hoje de Ciclo de Resposta Sexual Completo, dividido em quatro fases:
1. Desejo: através de um pensamento ou estímulo sensorial tenho vontade de transar;
2. Excitação: é contínua e pode durar de 30 segundos a vários minutos, dependendo do indivíduo. É nesta fase que o homem tem a ereção plena, podendo ocorrer penetração.
3. Orgasmo: descarga de intenso prazer, com duração média de três a 15 segundos.
4. Resolução: estado de bem-estar após o orgasmo, podendo durar de minutos (dois a cinco, em jovens com menos de 20 anos) a horas ou vários dias (mais comum depois dos 50 ou 60 anos).
No homem, a quarta fase caracteriza-se como período refratário --quando o organismo necessita de repouso, não aceitando mais estímulo sexual. Nele é fisiologicamente impossível ter orgasmos adicionais. "Sua duração pode variar, de acordo com a pessoa, de poucos minutos a vários dias", diz Trigueiro.
A maioria dos homens não consegue iniciar ou manter uma ereção durante este período e muitos têm a sensação de saciedade, com desinteresse temporário por mais atividade sexual. O pênis pode ficar bastante sensível e "qualquer ato sexual subsequente pode se tornar doloroso", diz o urologista UFPB.
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