A bissexualidade é a orientação sexual de indivíduos que possuem atração física e/ou conseguem satisfação sexual e afetiva tanto com mulheres, homens e transgêneros. Nem sempre as relações sexuais ou emocionais têm a mesma freqüência com todos os gêneros, podendo haver preferências quanto a se relacionar mais com um determinado gênero, e a eleição dos parceiros de acordo com o sexo pode variar em diferentes etapas da vida.
A partir de Freud, grande parte dos pesquisadores concordam que cada ser humano possui o potencial para desenvolver sua sexualidade em qualquer ponto do espectro homossexualidade-heterossexualidade, dependendo de várias influências ambientais, sociais, culturais e psíquicas. Reconhecem também que a orientação sexual é fluída em diferentes etapas do desenvolvimento humano, na formação da personalidade e nas expectativas afetivas e eróticas do indivíduo.
Ser bissexual não significa ser o antônimo de heterossexual ou de homossexual, embora alguns indivíduos destas orientações estigmatizem os bissexuais, acusando-os de “indefinidos” ou “enrustidos”. Por essa razão, é comum que indivíduos bissexuais procurem esconder sua orientação, a fim de serem aceitos (ou de se aceitarem) sem reservas por hetero ou homossexuais.
O antônimo de bissexual é monossexual, isto é, o bissexual tem seu desejo orientado a ambos os gêneros e o monossexual a um só gênero. Assim, aqueles cuja orientação sexual é essencialmente hetero ou homossexual são monossexuais, por desejarem pessoas do gênero oposto ou de seu próprio gênero. Já os bissexuais sentem atração, fantasiam, sonham e se relacionam com pessoas de ambos os gêneros.
Hoje a bissexualidade é considerada pela Ciência como uma orientação sexual tão genuína quanto a hetero e a homossexualidade. Ao contrário do que avalia o senso comum, os bissexuais não são pessoas que têm uma orientação sexual com interesse principal na homossexualidade, mas que mantêm uma prática heterossexual para atender ao padrão comportamental da sociedade. Também não são pessoas que têm uma orientação heterossexual com eventuais relações homossexuais.
Em 1948, Alfred Kinsey fez a primeira pesquisa para avaliar as orientações sexuais de uma determinada amostra e concluiu que os indivíduos 100% heterossexuais ou 100% homossexuais são minoria. Verificou também que 50% dos homens e 29% das mulheres afirmaram que antes da idade adulta haviam mantido alguma experiência erótica com pessoa de seu mesmo gênero. Nos anos 80, Fritz Klein reviu o que ficou conhecido como Escala Kinsey e concentrou seus estudos na bissexualidade, concluindo que na definição desta orientação influem as práticas sexuais do passado e do presente, as preferências emocionais e afetivas, as fantasias recorrentes, a auto-identificação, os diferentes estímulos de excitação provocados pelos dois gêneros em um indivíduo e o nível de prazer satisfatório em relacionar-se com os dois sexos.
De acordo com os estudos de Klein, a bissexualidade pode ser classificada em três categorias:
1. Transição: é mais comum no início da vida sexual, quando os indivíduos são pressionados a adotar um padrão social de comportamento, de acordo com o gênero a que pertencem. Mas descobrem que com pessoas do próprio gênero também há sensações de prazer sexual. Por exemplo, são experimentadas fantasias com os dois sexos, os corpos são tocados de modo prazeroso por terceiros, a nudez de homens e mulheres é indistintamente excitante, e o estímulo para a masturbação pode ser originário do pensamento erótico em alguém de gênero igual. É uma categoria transitória porque as experiências hetero e homossexuais duram entre um e dois anos, período durante o qual são desvendadas as curiosidades sexuais, sobretudo entre adolescentes e aqueles que vivem sob grande repressão de costumes. Essas primeiras incursões na vida sexual não definem o indivíduo como bissexual; sua orientação se manterá na hetero ou homossexualidade. Portanto a bissexualidade não é uma etapa da hetero para a homossexualidade.
2. Histórica: nesta categoria estão as pessoas que, já convictamente hetero ou homossexuais, mantiveram experiências ou fantasias eróticas com pessoas cujo sexo era contrário à sua orientação.
3. Seqüencial: nesta categoria estão os indivíduos que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo e, depois, com pessoas do outro sexo. Ambas relações são prazerosas, com ou sem troca afetiva. As relações com ambos os gêneros são marcadas pela alternância, isto é, há períodos em que o indivíduo prefere ou tem necessidade de relacionar-se com alguém do sexo oposto ao seu e, em outros períodos, com pessoas do mesmo sexo. Há também quem se relacione rotineiramente, alternando os parceiros de gênero.
A classificação proposta por Klein é apenas uma amostra da complexidade do estudo da orientação sexual e suscita várias outras questões que permanecem em aberto, sobretudo quanto ao direito dos bissexuais exercerem uma sexualidade que incomoda ao “normal” heterossexual e o “engajamento” homossexual. Isto pode desenvolver neles sentimentos de culpa, pela diferença entre o que são e o que acreditam que a sociedade espera que sejam.
Na maioria das sociedades há restrições e proibições que afetam as orientações sexuais minoritárias. Não é raro que indivíduos bissexuais tenham que adotar publicamente uma atitude exclusivamente heterossexual, originando problemas emocionais a si próprios e/ou a seus parceiros. De acordo com o padrão comportamental, as mulheres rejeitariam um parceiro que mantém, ainda que esporadicamente, relações sexuais com outro homem ou por ele sinta atração. Já entre os homens, a relação entre duas mulheres é fantasia recorrente e sua prática, mais tolerada.
Há pessoas que mantêm relações sexuais ou profundamente afetivas com membros de ambos os sexos e não se consideram bissexuais. Dentre estas, algumas se consideram mais heterossexuais ou homossexuais. Por exemplo, o fato de que um homem tenha relações sexuais com uma mulher, não significa necessariamente que ela em particular o atraia sexualmente. É possível que ele queira manter as aparências ou demonstrar algo para si mesmo, face às cobranças do meio cultural e social em que vive. Situação semelhante vivem as pessoas que freqüentemente mantêm relações sexuais com outras de seu gênero, mas eventualmente sentem-se atraídas pelo outro sexo, mas não se assumem como bissexuais para não serem rejeitadas por seu grupo homossexual.
Os bissexuais formam a grande parcela invisível que se abriga em um espaço ainda não delimitado entre as orientações hetero e homossexual. Há estudiosos que apostam que esta orientação ganhará maior visibilidade a partir de ações afirmativas, da “saída do armário” e de uma melhor compreensão científica quanto aos fatores sociais, culturais, psíquicos e genéticos que conformam a bissexualidade.
Fonte:
Acessado em 03 de julho de 2012.