Na antiguidade, a masturbação era considerada uma forma aceita de obter prazer, embora os greco-romanos a desestimulassem até a idade de 21 anos. No Egito, a religião descrevia a criação do mundo pela masturbação do deus Atum, e muitas mulheres eram enterradas mumificadas com os objetos fálicos que se masturbavam.
Entretanto, a condenação bíblica à masturbação perdurou por milênios. A lei religiosa judaica impunha que os homens fossem produtivos e se multiplicassem. Portanto, o coitus interruptus não era admitido como técnica contraceptiva e o termo onanismo que lhe foi atribuído ficou associado também ao prazer solitário. Pelo costume antigo dos judeus, quando uma mulher contraía matrimônio, estava casada com o marido e com toda a família dele. Ela havia sido comprada e paga. Se ela não tivesse lhe dado filhos, o marido ao morrer desaparecia como se jamais tivesse vivido. O casamento por levirato era a solução. Se um irmão mais velho morria sem deixar herdeiro, cabia ao irmão mais novo a responsabilidade de tomar a viúva como esposa e criar o primeiro filho nascido de ambos como um filho legítimo do morto. No Gênese (38:6-10) vemos a rebeldia de Onan: “Judá tomou para seu primogênito Er uma mulher, a qual se chamava Tamar. Ora, Er o primogênito de Judá, era um homem maus aos olhos do Senhor, assim, o Senhor o matou. Disse Judá a Onan: ‘Vai até a mulher do seu irmão, toma-a e dá sucessão a teu irmão!’ Onan, sabendo que essa posteridade não seria sua, sempre que se unia á mulher de seu irmão deixava cair o sêmen no chão para que não desse sucessão a seu irmão. O que ela fazia era mau aos olhos do Senhor, que matou também a ele.”
A masturbação foi, então, punida, com a morte. Não é de se estranhar que durante muito tempo que se acreditou que a masturbação causava ataques epiléticos, loucura, reumatismo, impotência, acne, asma, idiotice, cegueira e até crescimento de pêlos nas palmas das mãos. Muitos adolescentes hoje não têm a certeza de que não sofrerão nenhum tipo de prejuízo pela atividade masturbatória, já que a idéia de pecado ainda está presente provocando culpa e medo.
Na Idade média, a ejaculação do homem só devia ocorrer com a finalidade de procriação, e na Inquisição o acusado de masturbação era considerado herege, podendo ser condenado à morte na fogueira. Para os padres dessa época, a masturbação era produto do demônio.
A partir do período entre as duas guerras, provavelmente sob a influência das teorias de Freud sobre a sexualidade infantil, alguns militam em favor da educação sexual e estabelece-se um consenso em considerar a masturbação normal durante a infância e a adolescência. Com o crescimento da sexologia, a masturbação torna-se um hábito desejável para os jovens. “Os adolescentes que não conheceram essa etapa para o amadurecimento que, é a masturbação, quando chegam a idade adulta passam por muito mais dificuldades que os outros. A medida dessa evolução é indicada pela revista Vital, que afirma; “os biólogos se esforçam em descobrir as leis do prazer sexual (...). Seja por corpúsculos da voluptuosidade das zonas erógenas primárias ou pelas morfinas fabricadas pelo cérebro, está provado que o prazer não é um pecado na civilização, mas uma realidade inscrita no corpo”. Jean –Rene vê na masturbação uma tripla função: fisiológica, compensatória e lúdica, resumindo assim a opinião comum dos sexólogos.
A masturbação na infância é importante, já que equivale à auto-exploração do corpo, mas muitos não aceitam isso com neutralidade. O peso de tantos anos da masturbação associada ao pecado e à doença leva muitos pais - até os que se consideram livres de preconceitos – a se sentirem incomodados quando os filhos manipulam seus próprios órgãos sexuais, e geralmente procuram desviar a atenção da criança para outros interesses, o que de qualquer maneira deixa nela o registro de que essas atividades não é bem aceita.
Na puberdade, o desejo sexual é muito intenso tanto no menino quanto na menina. Como existe mais permissividade para toda expressão sexual masculina, a masturbação do menino é bem mais aceita do que a da menina. Em um estudo sobre a sexualidade adolescente feito em 1981, 80% dos meninos e 59% das meninas de 18 anos afirmaram se masturbar; em razão disso, algumas mães exigiam que suas filhas dormissem com os braços para fora das cobertas para evitar a masturbação. Entretanto, a masturbação na adolescência é vista pelos sexólogos como uma prática fundamental pela satisfação sexual na vida adulta, por permitir um auto conhecimento do corpo, do prazer e das emoções. “As adolescentes femininas que se iniciam na masturbação também apresentam o orgasmo clitoridiano, sendo isso um sinal de evolução sexual sadia. Mulheres multi orgásticas investigadas na nossa clínica normalmente iniciavam a masturbação antes do casamento e durante a adolescência.
Mas muitas mulheres se sentem envergonhadas e culpadas devido a uma educação que lhes ensina que o interesse e o desejo sexual pertencem ao sexo masculino. Ao não conseguirem controlar seus próprios desejos, muitas se sentem indignas, imaginando que só elas se masturbam, e não contam nem para a melhor amiga. As mulheres que conseguem romper com esses tabus muitas vezes utilizam variados objetos para se masturbar, estimulando a vulva ou a vagina. São vibradores, pênis artificiais, bolas ben-wa e outros, vendidos em sex-shops, além do cabo da escova de cabelo, ou mesmo legumes e outros objetos macios.
Barry Mc Carthy afirma em seu livro sobre a sexualidade masculina que, devido às advertências que todos recebem desde crianças e devido à reputação que a masturbação tem de pobre substituto das relações sexuais, a maioria das pessoas se sente culpada quando se masturba. Contudo, isso não impede que todos se masturbem. A prova é que 95% dos homens, incluindo os casados, masturbam-se. Mas a culpa impede que se desfrute o máximo, não permitindo que a masturbação seja a experiência libertadora e satisfatória que ela pode ser. Há uma insistência em afirmar que essa prática tem uma única finalidade: aliviar a tensão acumulada. Então, o ato é feito ás pressas. Quase ninguém se concede a oportunidade de perceber que a masturbação, longe de ser vergonhosa necessidade, é na verdade uma das melhores maneiras possíveis de se aprender sobre as próprias reações sexuais e de se aumentar a sensibilidade à estimulação sexual. Por essa razão, ele recomenda uma masturbação lenta, sensual e envolvendo o corpo todo.
Na terapia do sexo para o tratamento das disfunções orgásticas, a masturbação é o elemento principal para capacitar a mulher a ter o primeiro orgasmo. A instrução de que a mulher se masturbe quase sempre gera ansiedade nas pacientes que aprenderam a considerar a masturbação algo perigoso e vergonhoso. A psicoterapia paralela se propõe tratar desses preconceitos, enquanto ela é aconselhada, em condições de muita segurança, a emprenhar-se nessa atividade. Sugere-se, por exemplo, que ela se masturbe manualmente, mas se a princípio, a paciente deve masturbar-se manualmente, mas se a estimulação assim produzida não for suficientemente intensa para ter orgasmo, é aconselhada a usar um vibrador.
Em seu estudo sobre a sexualidade feminina, Shere Hite constata que a masturbação tem aspectos favoráveis – orgasmos fáceis e intensos, fonte inesgotável de prazer – mas, infelizmente, todos sofremos alguma influência de uma cultura que nos diz que as pessoas não devem se masturbar. Atualmente, tornou-se aceitável que as mulheres tenham prazer no sexo, desde que preencham seus papéis femininos – dando prazer aos homens e nunca tendo prazer sozinhas. Hite acredita que talvez no futuro as mulheres possam ter o direito de ter prazer na masturbação também, como declarou uma de suas entrevistadas: “A importância da masturbação é que se masturbando você se ama e cuida de si mesma totalmente, numa forma natural de relacionamento com seu próprio corpo. È uma atividade normal que deveria logicamente fazer parte da vida de qualquer mulher.”
No estudo de Hite sobre a sexualidade masculina, em que, foram entrevistados 7239 homens entre 13 e 97 anos de idade, 99% declararam que se masturbando, sendo que quase todos, casados ou solteiros, tendo ou não uma vida sexual ativa, disseram que a masturbação era algi constante em suas vidas. Mas a maioria se sente culpada e incerta sobre a masturbação, ao mesmo tempo que gosta imensamente - muitos têm seus orgasmos mais fortes, fisicamente, durante a masturbação. Os homens se sentem mais livres para se estimular da maneira que gostam e quase nenhum conta a outras pessoas que faz isso. Muitos homens, declaram que os orgasmos durante a masturbação eram fisicamente mais intensos, já que não havia pressões de desempenho, e eles tinham liberdade de se dar exatamente a estimulação adequada.
Hite conclui que a masturbação é uma atividade sexual muito importante e válida. Os homens falaram dela com entusiasmo e descreveram os intensos orgasmos experimentados. Com a masturbação, eles conseguem a estimulação que geralmente não obtêm de outra pessoa, como a anal, nos testículos e, talvez, também uma estimulação emocional ou psicológica. Na medida em que aos homens só é permitido um papel na relação, as fantasias criadas na masturbação podem ser uma maneira de desfrutar outro papel, a parte que falta. Ser completamente passivo.
Fonte:
Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo.Novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007;360-368.