domingo, 5 de dezembro de 2010

As expectativas do amor no casamento

     Assim como na nossa cultura acredita-se que só é possível estar bem vivendo uma relação amorosa, o casamento por amor passou a ser sinônimo de felicidade e, por conseguinte, uma meta a ser alcançada por todos.
     A idéia de felicidade conjugal depende da expectativa que se tem de casamento. Algumas décadas atrás, uma mulher se considerava feliz no casamento se seu marido fosse bom chefe de família, não deixasse faltar nada em casa e fizesse todos se sentirem protegidos. Para o homem, a boa esposa seria aquela que cuidasse bem de casa e dos filhos, não deixasse nunca faltar a camisa bem lavada e passada e, mais que tudo, mantivesse sua sexualidade contida. Um casal perfeito: uma mulher respeitável e um homem provedor.
     Hoje os anseios são bem diferentes e as expectativas em relação ao casamento tornaram-se muito mais difíceis, até  mesmo impossíveis de ser satisfeitas. As pessoas escolhem seus parceiros por amor e esperam que esse amor e o desejo sexual que o acompanha sejam recíprocos e para a vida toda. Aí, deparamos com uma questão crucial. O amor até que a morte nos separe se torna cada vez mais inviável.
     A entrada do amor romântico faz do casamento o meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas. Idealiza-se o par amoroso e, para manter essa idealização, não se medem esforços, o que acaba sobrecarregando a relação entre os cônjuges. Imagina-se que no casamento se alcançará uma complementação total, que as duas pessoas se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, ficam implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro.
     Numa relação estável, é comum as pessoas se afastarem dos amigos e abrirem mão de atividades que anteriormente proporcionavam amigos e abrirem mão das atividades que anteriormente proporcionavam grande prazer. Um deve ser a única fonte de interesse do outro e, portanto, tudo o mais é dispensável. Esse comportamento é aceito socialmente como natural, tanto que, num grupo de amigos, quando a ausência de uma membro é sentida, ouvimos explicações do tipo: “É , ele sumiu. Depois que casou nunca mais deu notícias.”
     Esse treinamento para se acreditar na complementação total com o outro geralmente se inicia antes do casamento.
     O ideal do par amoroso que está sempre junto, que se completa em tudo, em que um é a única fonte de gratificação do outro, atenua por um tempo o temor desamparo. Mas, para manter essa situação, são feitas muitas concessões e a conseqüência inevitável é um acúmulo de frustrações que torna a relação no casamento sufocante.
    E. Lê Garrec sublinha que o casal aniquila a pessoa humana, numa confusão alienante: “O ‘eu’ desaparece, absorvido, afogado no ‘nós’. Porque o casal não se permite essa parte de solidão indispensável à existência do indivíduo.
     Na busca de estabilidade e segurança afetiva qualquer preço é pago para evitar tensões que decorrem de uma vida autônoma. Assim, o desejo de conviver com intimidade se confunde com a ânsia de manter a estabilidade, levando as pessoas a suportar o insuportável. Tentando justificar sacrifícios ou frustrações pessoais, cria-se um mundo fantástico em que defesas como a negação e a racionalização são acionadas para que continue a viver uma relação idealizada, distante do que se ocorre na vida real.
     Quanto mais concessões são feitas para se manter o casamento, mais hostilidade vai surgindo em relação ao outro. Hostilidade, na maioria das vezes, inconsciente, que vai minando gradativamente a relação, até torná-la insustentável. “Assim, é justamente das pessoas mais tolerantes e dóceis que podemos esperar as ‘viradas de mesa’ mais intempestivas e radicais.
     O esforço para corresponder às expectativas depositadas no casamento pode superar o limite da capacidade de conceder e fazer optar pelo fim da relação. Em outros casos, o tédio e a monotonia da vida a dois, em função da dependência emocional que se tem do outro, podem levara uma atitude de resignação e acomodação.

Fonte:
  Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo: novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007:175-180.

Casamento

     Dentro do útero da mãe o indivíduo obtém a satisfação imediata de todas as suas necessidades.        Desconhece a fome, o frio, a sede e a falta de aconchego. Mas nasce. Precisa respirar com os próprios pulmões, reclamar a fralda molhada, desesperar-se com a cólica. É tomado por profundo sentimento de falta. Uma angustiante sensação de desamparo o invade. Sem retorno ao estágio anterior, isso o acompanhará por toda da vida.
     Ao nascer, ele é introduzido num mundo com padrões de comportamento claramente estabelecidos. Inicia-se, assim, o processo de socialização. Os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelo que se aprende a desejar, e o indivíduo passa a se comportar e agir de acordo com a expectativa social. As singularidades não mais existem. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação amorosa fixa e estável: o casamento. Tenta-se reaver o paraíso simbiótico que se tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, que não sustenta na realidade de uma vida a dois, cotidiana.
     Aprisionadas pela tirania de uma moral que determina o certo e o errado, o bom e o mau, pessoas solteiras, separadas ou viúvas buscam no casamento sua parcela de felicidade. A mudança na forma de pensar e de viver gera medo e ansiedade, sendo mais fácil optar pelo já conhecido, apesar das frustrações.      Contribuem para isso a família, os amigos, a escola e os meios de comunicação. Não existe novela sem casamento feliz no final.
     Quase todos os homens e mulheres, desejam não só casar, como se submeter com resignação a muitas outras normas sociais de conduta, a maioria incompatível com suas aspirações mais legítimas. Fazer escolhas realmente livres não é simples. Seu preço é fixado no alto pela sociedade, que mantém unidos os fiéis, á custa do sacrifício individual.

 Fonte:
 Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo: novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007:170-172.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Disfunção Erétil e Ejaculação Rápida:relação com a ansiedade

Definições

Para Masters e Johnson (1979), ejaculador precoce é o indivíduo que não contenta a parceira, em pelo menos 50% das relações sexuais. Os autores, entretanto, não especificam o número das relações sobre o qual fixam este limite.
Kaplan (1974), ao estudar as várias definições de ejaculação prematura, encontra um critério comum o número de incursões penianas e o tempo decorrido, após a penetração, até o reflexo ejaculatório estão intimamente relacionados. Esta autora utiliza, apenas recursos da reflexologia, para definir a disfunção erétil como “falha ao reflexo erétil”. Essa definição ignora questões biológicas e sociais, sem dúvida implicadas na origem do distúrbio.
A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENCAS, décima revisão (CID-10), definiu “falha da resposta sexual” (incluindo impotência) como “dificuldade em desenvolver ou manter uma ereção adequada para o intercurso satisfatório”, desde que excluídas patologias orgânicas (OMS, 1993, p.189).
De acordo com esse critério diagnóstico, ejaculação precoce, representa a “incapacidade  de controlar ejaculação o suficiente para ambos os parceiros gozarem a interação sexual” (OMS, 1993, p.190). Para a adequada definição do termo, exige-se exclusão da etiologia orgânica e ereção retardada.
Nestas duas últimas definições, percebe-se a tentativa de inclusão do aspecto relacional. Entretanto, não é considerada a possibilidade, muito comum, da concomitância de disfunção sexual da parceira, o que configuraria uma complementariedade patológica (OLIVEIRA & ABDO, 1994).
Diversos autores, como (KAPLAN , 1974;MONEY & MUSAPH, 1977;BANCROFT, 1983;GREENWOOD, 1984; ZILBERGELD, 1980), ao relacionarem os possíveis fatores etiológicos, incluem, com freqüência, a ansiedade como associada, causadora e/ou mantenedora das disfunções sexuais. No entanto, a ansiedade (sintoma ou patologia) não é valorizada na definição desses transtornos.


Causas Imediatas

KAPLAN (1974), salienta os aspectos que se constituem em dificuldades imediatas no campo da sexualidade, como:
  • Inabilidades do desempenho eficiente;
  • Medo do fracasso acompanhado de extremo desejo de satisfazer o(a) parceiro(a);
  • Tendência a racionalizar o prazer erótico (dificultando a entrega para prazer erótico (dificultando a entrega para o prazer sexual), comunicação precária do casal a respeito de preferências sexuais;
A inabilidade no desempenho sexual é resultado, geralmente, do desconhecimento de peculiaridades da  resposta sexual, por exemplo: o homem, tendo sua competência de erotização diminuída pela idade, pode desenvolver disfunção erétil secundária pela ansiedade resultante de cobrança de resposta.
A obrigatoriedade de orgasmo simultâneo a que o casal se submete, por pressão cultural, pode, também, desencadear falha de ereção.
O medo do fracasso no sexo relaciona-se diretamente com a ansiedade.
De acordo com HARTMAN(1980), a disfunção sexual masculina pode ocorrer mais frequentemente quando a parceira é ativa e reivindicadora de prazer sexual.
Para KAPLAN(1974), a partir de um fracasso eventual não superado, pode-se configurar autêntica disfunção, em indivíduos vulneráveis orgânica ou emocionalmente.
Desviando a racionalização do prazer erótico, o indivíduo impede de desfrutar o ato sexual, tornando-se expectador de seu desempenho e sem entrega. Auto-observação e crítica ansiogênicas, podem, neste caso, resultar em disfunção erétil.


Tratamento

Tratar a disfunção sexual masculina significa mais que promover recuperação do controle e/ou da força de ereção. Representa, antes, recuperar e, às vezes até, desenvolver a auto-estima e o sentimento de competência para os diversos aspectos da atividade humana.
Os elementos indispensáveis para qualquer abordagem terapêutica são:
  • Incentivar a comunicação dos parceiros e a manifestação mútua de suas necessidades sexuais específicas;
  • Esclarecer o ciclo de resposta sexual e os aspectos ligados à função sexual;
  • Estimular exercícios sexuais (entre uma consulta e outra).
No caso da disfunção erétil, os medicamentos administráveis por via oral recentemente lançados (sildenafil, fenolamina) têm se constituído em mais de um recurso contra a disfunção erétil. Agindo de forma incisiva e sem inconvenientes da administração injetável, auxiliam na aquisição de auto-confiança e encorajam a retomada da atividade sexual, sem a  insegurança e o constrangimento das tentativas frustradas.
Observa-se que esse tipo de medicação só é útil quando existe o desejo, ou seja, quando a disfunção erétil decorre de alterações da excitação ou do orgasmo. A dose indicada é de 50 mg de sildenafil (Viagra®)ou 40 mg fentolamina (Vasomax®,Regitina®, Herivyl®) 40 a 60 minutos antes do ato sexual.                   
Para a ejaculação precoce, os efeitos colaterais dos antidepressivos(diminuição de libido e das secreções, contenção da ansiedade)auxiliam no retardo da ejaculação.


Fonte:
Abdo CHN. Sexualidade Humana e seus Transtornos. 2ª ed rev amp. São Paulo: Lemos Editorial;79-89; 2001.

Para uma pesquisa mais profunda:
BANCROFT, J. Human Sexuality and its Problems. Edinburgh, Churchill Livingstone, 1983.

GREENWOOD, J. Coping with Sexual Relastionships. Edinburgh, Mc Donald, 1984.

HARTMAN, L.M. Relationship Factores and sexual Dysfunction. Canadian J. Psychiat., 25:560-3, 1980.

KAPLAN,H.S. A Nova Terapia do Sexo. 5ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1974.

MASTERS, W.H. & JOHNSON, V.E. A Incompetência Sexual. 3ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.

MONEY, J. &MUSAPH, H. The Handbook of Sexology. Amsterdam, London, New york, Excerpta Medica, 1977.


OLIVEIRA, S.R. & ABDO, C.H.N.Algumas Reflexões sobre a Importância do Casal na Gênese das Patologias Sexuais. Rev. Psiquiat. Clín., 21(1):15-18, 1994.

OMS. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Trad. D. Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.

ZILBERGELD, B. Men and Sex. London, Fontana, 1980.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Estudo identifica fatores que prejudicam a sexualidade feminina após a idade reprodutiva

    Depois da menopausa, quando acabam as ovulações mensais e os teores de hormônios femininos caem bastante, a qualidade da vida sexual de mais de um terço das mulheres piora muito. Elas passam a evitar relações sexuais, em grande parte por sentir desconforto e dor que tornam o sexo quase um suplício doloroso. Essas constatações vêm de um levantamento coordenado pelo ginecologista Aarão Mendes Pinto-Neto, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e detalhado em três artigos publicados em 2008 na revista Menopause. 
    No trabalho, parte da tese de doutorado da ginecologista Ana Lúcia Valadares, os pesquisadores avaliaram a qualidade da vida sexual de 378 mulheres com idades entre 40 e 65 anos que haviam completado o ensino médio, uma população muito pouco estudada no Brasil. Todas as entrevistadas eram moradoras de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Elas responderam a um questionário – desenvolvido na Austrália e traduzido para o português pelo grupo da Unicamp – que investiga a vida sexual por meio de perguntas sobre a frequência das relações sexuais (solitárias ou a dois, com ou sem penetração vaginal), a intensidade do prazer alcançado com o sexo e a frequência e a intensidade de pensamentos sobre sexo e do desejo sexual. 
     Um dos resultados que chamaram a atenção foi a grande frequência de dor durante a penetração – distúrbio chamado pelos médicos de dispareunia –, mencionada por quase 40% das entrevistadas. “Entre dois e três anos depois da menopausa, quase todas as mulheres sentem algum nível de desconforto devido à secura vaginal”, conta Aarão. Em muitos casos, nada que informação e um pouco de gel lubrificante não resolvam. 
    A companhia de um parceiro carinhoso e saudável também se mostrou indispensável para uma boa sexualidade. Ana verificou que as mulheres cujos parceiros tinham problemas como disfunção erétil ou ejaculação precoce apresentavam maior tendência a sentir dor durante o sexo. Uma explicação provável, segundo os pesquisadores, é que essas mulheres, para atingir um nível de lubrificação confortável, precisavam receber mais carícias, o que nem sempre um parceiro mais apressado consegue dar. 
   A dispareunia foi mais comum entre as mulheres com depressão e as que se sentem nervosas em relação ao sexo. Como o questionário estabelece a correlação, mas não permite saber se a dor causa o problema emocional ou se é consequência dele, os pesquisadores se valem da experiência clínica para entender melhor os resultados. Com base nos casos que viu em mais de 20 anos de estudo, o ginecologista da Unicamp acredita que o desconforto físico surge antes do problema emocional. E, quando a mulher antecipa a dor que sentirá, começa a evitar a atividade sexual.

     Alguns dos sinais desagradáveis da menopausa atrapalham o sexo, o que torna a disfunção sexual mais comum entre as mulheres que têm esses sintomas. Não surpreende. Quem transpira e sente falta de ar durante ondas súbitas de calor, não produz lubrificação vaginal, sofre de insônia, tem depressão e passa por um período em que as oscilações de humor parecem uma montanha-russa a ponto de dar saudades das tensões pré-menstruais da juventude dificilmente encara o sexo com bons olhos. Além disso, os medicamentos contra depressão e hipertensão, problemas comuns nessa fase da vida, podem diminuir o desejo sexual.  

Medida pessoal - Uma boa vida sexual, Aarão frisa, é a que satisfaz a própria pessoa. Há quem fique feliz com sexo uma vez ao mês e quem ache três vezes por semana pouco. E, ele acrescenta, o desejo sexual naturalmente diminui com a idade – não com a menopausa. “Um homem de 50 anos tem menos desejo do que tinha aos 20 anos; o mesmo acontece com as mulheres.” Por essa razão, o pesquisador não fala em sexualidade boa ou normal, mas sim adequada para cada mulher.  
     A satisfação, porém, não depende apenas da saúde física. Para uma vida sexual plena, a saúde emocional do relacionamento deve estar em dia. “Para ter uma sexualidade adequada, a mulher precisa sentir atração pelo parceiro”, conta o pesquisador da Unicamp. O questionário incluiu perguntas sobre quão satisfeita a participante estava com seu parceiro como amante, se estava apaixonada e, de maneira geral, como se sentia em relação a ele – ou ela, no caso de relações homossexuais. Uma proporção maior (de 71% a 86%) de mulheres que deram nota máxima em uma escala de 0 a 6 para cada um desses três itens – ou seja, estavam apaixonadas, os parceiros as satisfaziam e elas os viam como bons companheiros – afirmou ter uma boa vida sexual. Entre as menos satisfeitas com seus parceiros, mais da metade (entre 53% e 56%) tinha a sexualidade prejudicada.  
     Entre as mulheres da capital mineira, ficou claro que ter um parceiro sexual saudável é importante para uma boa vida sexual, mas morar com esse parceiro atrapalha. Segundo o ginecologista, alguns sexólogos defendem que a cura para a disfunção sexual feminina é um parceiro jovem e atraente.  
     A partir desse levantamento, os ginecologistas podem ajudar as mulheres a resgatarem sua sexualidade depois da idade reprodutiva. Para isso é preciso avaliar o caso de cada paciente e buscar soluções mais adequadas para elas. A terapia de reposição hormonal, por exemplo, pode reduzir a falta de lubrificação e os calores, e determinadas posições sexuais podem ser mais confortáveis e prazerosas para a mulher. “Nossa função”, resume Aarão, “é oferecer bem-estar geral às mulheres e preservar a saúde delas para a velhice”.
Maria Guimarães - Pesquisa Papesp
[18/2/2009]


Fonte:

     

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Modelo Circular da Resposta Sexual Feminina: Basson - Parte II

     


    O paradigma criado por Masters e Johnson e Kaplan foi aceito por muitos anos como representante da resposta sexual tanto nos homens como nas mulheres. Recentemente, uma das principais especialistas em saúde sexual da mulher (Rosemary Basson) tem defendido um novo modelo de função sexual feminina que sublinha a interdependência das relações e dos  fatores da função sexual em mulheres. Neste novo modelo, a sexualidade e a função sexual em mulheres segue uma trajetória circular em que estímulos emocionais e de relacionamento são questões que desempenham um papel fundamental e o desejo sexual intrínseco desempenha um papel muito menor1.
     Este modelo foi confirmado no II Encontro Internacional para levantamento de Consensos relativos às desordens sexuais, caracterizando o ciclo de resposta sexual feminina por cinco fases (Basson et al., 2004) assim esquematizadas2:
1ª. Fase: Início da atividade sexual com motivação não necessariamente sexual, podendo não haver consciência de desejo sexual.
2ª. Fase: Receptividade ao estímulo sexual em contexto adequado, identificação da excitação sexual potencial (excitação subjetiva e resposta física), desencadeando a responsividade biológica.
3ª. Fase: Vivência da excitação subjetiva, que também pode desencadear a consciência de desejo sexual.
4ª. Fase: Aumento na intensidade da excitação e do desejo responsivo, podendo ou não ocorrer o alívio orgástico.
5ª. Fase: Satisfação física e emocional, aumentando a receptividade para iniciar a atividade sexual na próxima vez, o que fecha, portanto, um modelo circular. Havendo insatisfação física ou emocional, diminui a motivação para ser ativa sexualmente no futuro.Observou-se que o desejo inato ou espontâneo, experimentado anteriormente ao início da estimulação, pode algumas vezes estar presente, desencadeando o ciclo da resposta sexual e substituindo as duas primeiras fases. Caracteriza-se, neste caso, uma combinação com o modelo tradicional. Estabeleceu-se a ressalva de que a ausência do desejo espontâneo não caracteriza uma disfunção sexual.
     Esse modelo embasa o Índice da Função Sexual Feminina – FSFI (Rosen et al., 2000), um questionário breve que avalia seis domínios: desejo, excitação subjetiva, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor. Permite avaliar a intensidade relativa da disfunção em cada um desses domínios.

Fonte:

1. Tom F. Lue; Shindel, Alan. Male Sexual Function and Dysfunction:A guide for men and their partners (Internet). Version 43. Knol. 2008 Nov 12. Available from: http://knol.google.com/k/tom-f-lue/male-sexual-function-and-dysfunction/O879r3Nx/qdC4CQ.

2. Fleury, H. J. Estudo comparativo entre dois modelos de intervenção sobre as manifestações da sexualidade na perimenopausa: modelo fitoterápico e modelo psicoterapêutico associado ao fitoterápico (Internet). Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. São Paulo, 2006. Disponível em : http://www.heloisafleury.com.br/hjf_tese.pdf

domingo, 24 de outubro de 2010

Resposta Sexual Masculina e Feminina - Parte I

         Modelo de Resposta Sexual – Masters e Johnson
        
       Os estudos populacionais desses pesquisadores revelaram que as mais diferentes práticas sexuais ocorriam entre os americanos e envolviam, de forma ampla  e irrestrita, os corpos de ambos os parceiros, concentrando-se nos genitais somente para a finalização do ato. Uma vez reconhecido a multiplicidade dessas manifestações sexuais, critérios foram pouco a pouco sendo estabelecidos, de modo a definir o que seria patológico e o que não, dando origem às primeiras classificações dos transtornos da sexualidade1.
       Em 1966 um casal de terapeutas americanos, Masters e Johnson desenvolveram um modelo de resposta sexual constituído por quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução, que é comum aos dois gêneros (feminino e masculino)2.
         As quatro fases podem ser definidas como2:
        Primeira fase – Excitação
        Esta fase é caracterizada pelo ímpeto das sensações eróticas e pela obtenção de ereção no homem, e da lubrificação vaginal, na mulher. As manifestações de tensão sexual incluem também uma reação corporal generalizada da congestão dos vasos.
        No homem, a fase de excitação caracteriza-se pela ereção do pênis, o escroto se dilata, a bolsa escrotal torna-se mais lisa e maior, os testículos começam a se elevar porque os cordões espermáticos ficam mais curtos.
        Na mulher, esta fase também é caracterizada pela congestão dos vasos tanto genitais locais quanto da pele em geral e pela resposta na pele das mulheres (rubor) é quase sempre mais pronunciada e, além disto, durante a excitação, os seios começam a se intumescer, ficando os mamilos eretos.
        Segunda fase – Platô
        A fase de platô de Masters e Johnson é o estado mais avançado da excitação que ocorre antes do orgasmo. Durante o platô, a resposta vaso congestiva local do órgão sexual primário se encontra no auge, em ambos os sexos. No homem, o pênis está distendido e cheio de sangue até o limite de sua capacidade. A ereção é firme e o falo está retesado até o máximo do seu tamanho. Os testículos se tornam cinqüenta por cento maior do que seu tamanho normal pois são ingurgitados com sangue.
        As transformações fisiológicas que ocorrem durante esta fase nas mulheres também podem ser atribuídas, em grande medida, à vasocongestão. Esta vasocongestão local atinge, igualmente, os seus limites extremos nesta fase e é a responsável pelas transformações mais características que ocorrem os órgãos sexuais primários. Estas transformações foram descritas por Masters e Johnson como intumescência e coloração dos lábios menores, isto é, a “pele do sexo”, variando de vermelho vivo a bordô e a formação de uma placa espessa de tecido congestionado circundando a entrada e a parte inferior pela vagina, fenômeno que Masters e Johnson se referem como “plataforma orgásmica”.
        Terceira fase – Orgasmo
        Durante o orgasmo que é considerado o prazer mais intenso das sensações sexuais, no homem o sêmem jorra do pênis ereto, em três a sete ejaculações, a intervalos de 0,8 de segundo. Masters e Johnson descreveram os componentes duais do orgasmo masculino: o primeiro consiste nas contrações dos órgãos internos e assinala uma sensação de “inevitabilidade ejaculatória”. As contrações rítmicas da uretra do pênis, dos músculos da raiz do falo e dos músculos perineais, que se seguem imediatamente após, constituem o segundo componente e são experimentadas como o próprio orgasmo. Depois do orgasmo, o homem é refratário á excitação sexual; mas especificamente um certo espaço de tempo – o período refratário deve transcorrer antes que ele possa ejacular novamente.
        Independente da  maneira de excitação, o orgasmo feminino consiste também sempre em 0,8 segundos de contrações rítmicas reflexas dos músculos circunvaginais, do períneo e dos tecidos inflamados da “plataforma orgásmica”. A mulher nunca é fisicamente refratária ao orgasmo; se ela não tiver inibição, segundo após ela ter conseguido o orgasmo e enquanto ainda está em fase do platô, pode ser de novo excitada para o outro, sucessivamente, até que esteja fisicamente exausta e não queira mais ser estimulada.
        Quarta fase – Resolução
        Durante a resolução, que é a fase final do ciclo de resposta sexual, as respostas fisiológicas locais especificamente sexuais cessam e todo o corpo volta ao seu estado normal. As respostas somáticas generalizadas aos estímulos sexuais diminuem rapidamente. As pulsações, a pressão arterial, a respiração, a vascularidade da pele que aumentaram de intensidade em virtude do esforço para o coito, voltam ao estado normal minutos após o orgasmo.
        No homem os testículos se detumescem e descem imediatamente à posição habitual, enquanto o pênis volta, vagarosamente ao estado flácido urinário. Com exceção dos que são muito jovens e que após uma ejaculação podem ejacular uma segunda vez, sem perder a ereção, o pênis se detumesce em dois períodos; no primeiro logo após o orgasmo, o pênis é reduzido a aproximadamente metade do seu tamanho quando no auge da ereção, talvez  porque os corpos cavernosos se esvaziam de sangue; e dentro de meia hora, depois que o corpo esponjoso e a glande, que respondem mais lentamente, também se esvaziaram, o aumento no tamanho diminui por completo. Nos homens de mais idade, a involução do pênis após o coito se faz mais rapidamente, quase sempre dentro de minutos.
        Na mulher, o clitóris volta à posição normal dentro de 5 a 10 segundos após o orgasmo. Há rapidamente detumescência da plataforma orgásmica. Masters e Johnson declaram que podem decorrer de 10 a 15 minutos para a vagina volte ao seu descorado estado de repouso e de relaxamento. O osso cervical continua a “bocejar” durante 20 a 30 minutos depois do orgasmo e durante este tempo o útero já completou o descenso à bacia e o colo do útero também desce a bacia seminal. A “pele do sexo” dos lábios menores perde a coloração intensa dentro de 10 a 15 segundo depois da contração orgásmica, presumivelmente enquanto o sangue vai-se escoando da área genital.
        Na grande maioria dos homens estudados por Masters e Johnson ocorreram variação de um padrão previsível. Em contra partida, esses pesquisadores encontraram variação muito maior entre as mulheres com relação a experiência sexual. Em algumas, a seqüência das fases foi semelhante ao observado nos homens já em outras, houve um discreto orgasmo e em outras, orgasmos múltiplos durante uma relação sexual3.
  A fase de desejo (definindo este como um interesse na atividade sexual que antecede a real excitação sexual)  só foi descrita por Helen Singer Kaplan em 1977,  corresponderia à vontade de estabelecer uma relação sexual, a partir de algum estímulo sensorial (audição, visão, olfato etc.), assim como pela memória de vivências eróticas e de fantasias. O novo esquema considerava o ciclo de resposta sexual, então, composto pelas fases de desejo, excitação, orgasmo e  resolução3,4,5.    

Referências:
1.       Abdo CHN, Fleury HJ. Aspectos diagnósticos das disfunções sexuais femininas. 2006;33,3; 162-167.
2.      Kaplan HS. A Nova Terapia do Sexo. Tradução de Osvaldo Barreto e Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1977.
3.     Meston C.M. et al. Women’s orgasm. 2004:15;173-257.
4.  Abdo CHN. Sexualidade humana e seus transtornos. 2a.ed. São Paulo: Lemos; 2000. p.31-2.
5.  Verit FF, Yeni E, Kafali H. Progress in female sexual dysfunction. Urol Int. 2006; 6(1):1-10.
        



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sexualidade Feminina - Disfunção Sexual Feminina

       A sexualidade feminina possui características próprias que a diferenciam da masculina, tanto no aspecto morfológico, quanto no cultural e sociológico, entre outros1.
A função da sexualidade feminina, na cultura ocidental, durante séculos, esteve voltada a procriação.   Com as descobertas científicas, as mudanças econômicas, religiosas e sociais, houve uma mudança de comportamento tanto em homens, como em mulheres, ocasionando assim, o reconhecimento de uma sexualidade feminina em constante transformação, seja enquanto relacionamento (homo ou heterossexual), manifestação (masturbação, sexo oral, sexo anal), prazer (tipo orgasmo, ponto G) e finalidade (satisfação, procriação)1.
Uma disfunção sexual caracteriza-se por uma perturbação nos processos que caracterizam o ciclo de resposta sexual ou por dor associada com o intercurso sexual. O ciclo de resposta sexual pode ser dividido nas seguintes fases2:
Desejo: esta fase consiste de fantasias acerca da atividade sexual e desejo de ter atividade sexual.
Excitação: consiste de um sentimento subjetivo do prazer sexual e alterações fisiológicas concomitantes. As principais alterações na mulher consistem de vasocongestão pélvica, lubrificação e expansão vaginal e turgescência da genitália externa.
Orgasmo: esta fase consiste de um clímax de prazer sexual, com liberação da tensão sexual e contração rítmica dos músculos do períneo e órgãos reprodutores.
No homem, existe uma sensação de inevitabilidade ejaculatória, seguida de ejaculação de sêmen. Na mulher, ocorrem contrações (nem sempre experimentados subjetivamente como tais) da parede do terço inferior da vagina. Em ambos os gêneros, o esfíncter anal contrai-se ritmicamente.
Resolução: consiste de uma sensação de relaxamentos muscular e bem estar geral. Durante esta fase as mulheres podem ser capazes de responder a uma estimulação adicional quase que imediatamente. Em contrapartida, os homens são fisiologicamente refratários a outra ereção e orgasmo por um período variável de tempo.

Características das disfunções sexuais femininas2:
302.71 – Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo: a característica essencial do Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo é uma deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de ter atividade sexual. A perturbação deve causar acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
302.73 - Transtorno Orgásmico Feminino (anteriormente Orgasmo Feminino Inibido): a característica essencial do Transtorno Orgásmico Feminino é um atraso, ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo, após uma fase normal de excitação sexual.
302.76 – Dispareunia: A característica essencial da Dispareunia é dor genital associada com o intercurso sexual. Embora a dor seja experimentada com maior freqüência durante o coito, ela também pode ocorrer antes ou após o intercurso.
        306.51 – Vaginismo: a característica essencial do vaginismo é a contração involuntária, recorrente ou persistente, dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina, quando é tentada a penetração vaginal com pênis, dedo, tampão ou especulo.

Critérios de diagnóstico das disfunções sexuais2:
        Transtorno do Desejo Hipoativo: deficiência (ou ausência) persistente ou recorrente de fantasias ou desejo de ter atividade sexual. O julgamento de deficiência ou ausência é feito pelo clínico, levando em consideração fatores que afetam o funcionamento sexual, tais como idade e contexto de vida do indivíduo.
           
Transtorno Orgásmico Feminino: atraso ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual. As mulheres apresentam uma ampla variabilidade no tipo ou na intensidade da estimulação que leva ao orgasmo. O diagnóstico de Transtorno Orgásmico Feminino deve fundamentar-se no julgamento de que a capacidade orgásmica da mulher é menor do que seria esperada para sua idade, experiência sexual e adequação da estimulação sexual que recebe. 
A disfunção orgásmica não se deve exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral. 
Dispareunia: dor genital recorrente ou persistente associada com o intercurso sexual em mulheres. A perturbação causa acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
A perturbação não é causada exclusivamente por Vaginismo ou falta de lubrificação, nem se deve exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral
Vaginismo: espasmo involuntário, recorrente ou persistente da musculatura do terço inferior da vagina, que interfere no intercurso sexual.

Tratamentos
No tratamento das disfunções sexuais femininas, algumas premissas  básica devem ser utilizadas1:
·       não existe cônjuge não comprometido da parceira que exibe uma inadequação sexual. A terapia é do casal;
·       a abordagem terapêutica deve ser multidisciplinar (ginecologista, urologista e psicoterapeuta);
·       a equipe de terapia deve funcionar como catalisador para a comunicação de descrição da base psicossocial das disfunções;
·       deve-se reconhecer o temor da paciente em relação a seu desempenho sexual e a seus preconceitos, tabus e princípios morais;
·       deve-se corrigir conceitos errôneos a respeito da anatomia e da fisiologia;
·       estimular uma atitude de auto-observação, orientando a paciente a se auto-examinar e a se tocar;
·       exploração dos genitais, exercícios específicos (com auxilio dos dedos ou de moldes ou de dilatadores vaginais), relaxamento e posicionamento;
·       apoio;
Outro tratamento para disfunções sexuais podem ser1:
Psicoterapia
 A sintomatologia ou queixa é abordada no conjunto das vivências psíquicas e é vista como uma manifestação psicológica. A partir disso a paciente passa a perceber que a questão sexual está relacionada a outras questões de sua vida e que provavelmente sua queixa está diretamente ligada à forma que ela tem de resolver determinados problemas. Cada mulher deve trabalhar em sua individualidade, apesar de tratamento poder ser individual ou grupal.
Terapia cognitivo-comportamental
A paciente, em entrevista estruturada, é orientada e submetida às técnicas indicadas, e as mais comuns:
Para disfunção orgásmica: exercícios sexuais progressivos com um parceiro, ou um vibrador, visando ao relaxamento e integração das sensações sexuais até culminar no orgasmo.
Para dispareunia: utilização de exercícios de relaxamento e exercícios sexuais com um vibrador e/ou companheiro.
Para vaginismo: proporcionar à paciente relaxamento suficiente para explorar sua genitália e aos poucos inserir seu dedo na vagina e depois permitir que seu companheiro faça o mesmo. O uso de dilatadores vaginais também é indicado.

Referências:

1. Abdo CHN. Sexualidade Humana e seus transtornos. 2ª ed rev amp. São Paulo: Lemos Editorial; 2001.
2. Associação Psiquiátrica Americana (APA)-DSM-IV.Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Observando as ovelhas...A descoberta da paternidade.


A história humana divide-se em dois grandes períodos: a Idade da Pedra e a Idade dos Metais. Há registros escritos deste último, iniciado por volta do ano 3000 a.C., correspondendo à  história das nações civilizadas. A Idade da Pedra subdividi-se em: Paleolítico (antiga Idade da Pedra) e Neolítico (nova Idade da Pedra).
Vivia-se nos bosques, provavelmente nas árvores, a maior parte do tempo, devido à presença de animais selvagens, e a alimentação consistia apenas em raízes e frutos. A descoberta do fogo tornou os homens mais independentes do clima e do lugar. Podiam cozinhar , afugentar animais, iluminar as cavernas. Adquiriram maior autonomia.
O primeiro representante do Homo sapiens foi o homem de Cro-Magnon, no Paleolítico  superior, isto é, nos últimos 35 mil anos.
O temor diante do mistério da vida e da morte era expresso em rituais e mitos associados à crença de que os mortos pudessem renascer. Desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação. Os homens não imaginavam que tinha alguma participação no nascimento de uma criança, o que continuou sendo ignorado por milênios. A fertilidade era característica exclusivamente feminina, estando a mulher associada aos poderes que governavam a vida e a morte. Embora tudo indique que tivesse mais poder do que o homem, não havia submissão. Cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem, a todas as mulheres. O matrimônio era por grupos. Cada criança tinha vários pais e mães e só havia a linhagem materna.
Foram encontrada na Europa Central, entre 30000 e 25000 a.C., por arqueólogos, quase 200 estatuetas que testemunham o culto à fecundação. Não há representação do ato sexual ou qualquer sinal de erotismo. O símbolo sexual do período Paleolítico foi a mais famosa dessas estatuetas: a Vênus de Willendorf, que tenha aproximadamente 12 cm de altura e representa uma mulher de nádegas e seios imensos, quadris largos, barriga proeminente e uma grande fenda vaginal.
No ano 10000 a.C., o gelo começou a recuar para o Norte, modificando o clima e, com isso, a vegetação. Na ausência da roda e de animais de carga, era impossível para os  homens transportar os alimentos colhidos. Decidiram, então, mudar-se para perto das plantações, fazendo surgir, as primeiras aldeias.
A agricultura estabelece-se definitivamente em 6500 a.C. Presume-se ter sido uma invenção da mulher, devido às constantes ausências do homem. Começou a domesticar os animais, abandonando a caça e com isso a agricultura ganhava mais importância.  Acreditava-se que a fecundidade da mulher influenciava a fertilidade dos campos. Tal associação fez com que ela alcançasse um prestígio nunca antes vivenciado. A mãe era a personagem central nessa sociedade. A mulher, assim como a Deusa, tornava-se poderosa no imaginário da época.
Não mais tendo que arriscar a vida como caçador, os valores  viris do homem não eram enaltecidos, daí a ausência de deuses masculinos. As súplicas e os sacrifícios eram dirigidos à Deusa e toda atividade econômica estava ligada a seu culto. Os homens não tinham motivos para se sentir superiores ou exercer qualquer tipo de opressão sobre as mulheres. Continuavam ignorando sua participação na procriação e supunham que a vida pré-natal das crianças começava nas águas, nas pedras, nas árvores ou nas grutas, no coração da terra-mãe, antes de ser introduzida por um sopro no ventre de sua mãe.
Quando abandonaram a caça, os homens começaram a participar das atividades das mulheres. Inicialmente, ajudavam na árdua tarefa de desbravar a terra com enxadas de madeira, o que exigia bastante força física. Algum tempo depois, domesticaram os animais e os incorporaram à agricultura, usando um arado primitivo. A convivência cotidiana com os animais fez com que os homens percebessem dois fatos  surpreendentes: as ovelhas segregadas não geravam cordeiros nem produziam leite, porém, num intervalo de tempo constante, após o carneiro cobrir a ovelha, nasciam, filhotes. A contribuição do macho para a procriação foi, enfim, descoberta, mas não apenas isso. Os homens perceberam que num carneiro podia emprenhar mais de 50 ovelhas! Com um poder similar a esse, o que homem não conseguia fazer?
Não é difícil imaginar o impacto dessa revelação para a humanidade. Após milhares de anos acreditando que a fertilidade e a fecundação eram atributos exclusivamente femininos, os homens constatam, surpresos, que o que fertilizava uma mulher é uma substância nela colocada: o sêmen do macho! A partir daí, há uma ruptura na história da humanidade. Transformaram-se as relações entre homem e mulher, assim como a arte e a religião. O homem, enfim, descobriu seu papel imprescindível num terreno em que sua potência havia sido negada.
A reação masculina eclodiu com a força e a ira de quem fora durante muito tempo enganado. O homem foi desenvolvendo um comportamento autoritário e arrogante. Daquele parceiro igualitário de tanto tempo, a mulher assistiu ao surgimento do déspota opressor. A superioridade física encontra, então, espaço para se estender à superioridade ideológica.
   
Fonte:

 Lins, R. N. A Cama na Varanda: arejando novas idéias a respeito de amor e sexo: novas tendências.ed rev e ampliada.Rio de Janeiro:BestSeller, 2007:21-24;27.
                                                                                                        

domingo, 3 de outubro de 2010

Sexo e Sexualidade: Definições

Deixo aqui definições de SEXO e SEXUALIDADE.
Definições que se completam, mas apresentam suas diferenças.
sexo é uma função natural que existe desde o nascimento e varia de intensidade segundo o ciclo vital1.
A palavra "sexo" normalmente recorre ou ao  gênero biológico, macho e fêmea, ou para os atos físicos que envolvem os órgãos genitais2.
sexualidade é definida e caracterizada como o aspecto central que perpassa toda a vida do ser humano e envolve sexo, identidades e papeis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução3.
Sexualidade é uma dimensão inerente da pessoa e que está presente em todos os atos de sua vida. É um elemento básico da personalidade que determina no indivíduo um modo particular e individual de ser, de manifestar-se, de comunicar-se, de sentir, de expressar e de viver o amor. Sexualidade é auto-identidade, é a própria existencialidade4.
A palavra "sexualidade" geralmente tem um significado muito mais amplo desde que recorra a todos os aspectos do ser sexual. Ela geralmente recorre a uma dimensão da personalidade e das relações sociais e não só para a capacidade de resposta erótica. A sexualidade humana envolve, pelo menos, as seguintes dimensões: biológica, psicossocial, comportamental e espiritual.
Assim, a sexualidade humana inclui, no mínimo, a biologia, a personalidade, as relações sociais, os comportamentos específicos, o gênero, a política, a economia e a espiritualidade. Vai além dos  comportamentos específicos, das atitudes e dos desejos porque ela é parte integrante da personalidade, ou do senso de identidade e como nós nos relacionamos com o mundo. 
É uma parte integrante do ser. Porém, é efetivamente impossível separar a sexualidade do sexo, ou do desejo sexual, e os controles sociais de sua  satisfação, ou negação2.


Referências:

 1. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342008000200015&lng=es&nrm=iso

2. James FARRIS.
A família, o sexo e a sexualidade... Revista Caminhando v. 11, n. 18, p. 151-164, jul–dez 2006.


3.Organização Mundial da Saúde (OMS)


4.http://www.vinhoesexualidade.com.br/Sexualidade/Conhecendo-a-Sexualidade/Educacao-em-Sexualidade








Apresentação...

Bom dia, 
Neste blog, pretendo escrever alguns texto ligados a sexualidade. A sexualidade que vivemos e sentimos no dia a dia.
Espero que gostem e que participem mandando suas idéias, sugestões e críticas!
Abraços, 
Marcia